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TEMPO PARA SER

O descanso e lazer são essenciais para o crescimento e o desenvolvimento humano. (Const. RSCM §30-31c)
Conseguimos imaginar como voltamos de umas férias em que fomos a melhor versão de nós próprios?

Há um verbo que vive associado às férias como unha e carne: IR.

Não raras vezes ouvimos expressões como: “preciso de sair daqui para fora, ir para o campo, ir para a praia, ir para outra cidade, ir para qualquer sítio, ir…”. Há no ato de ir uma vontade, uma necessidade, um propósito.

Embora o mês de agosto já não seja o mês de gozo de férias para a maior parte de nós continua a ser considerado, por excelência, o mês das férias.

A partir de junho entramos em modo de contagem decrescente. Riscamos de forma empenhada cada dia no calendário e começamos a idealizar locais onde gostaríamos de ir. É o ponto de partida para as conversas que, pelo final de agosto ou início de setembro, se ouvirão nos locais da rotina diária que se vai recuperando: “fui a…”.

E assim se “mede” o sucesso das férias de cada um! E assim se poderá assumir que é para isso que as férias servem: para ir!

Impõe-se uma pergunta: como vamos?

Na Sagrada Escritura abundam relatos de idas como momentos de transição, mudança, de busca por um tempo e um espaço diferente, melhor. A este propósito lembremos Abraão e o Senhor Deus que lhe diz: “Deixa a tua terra e vai para a terra que Eu te indicar”. (Gn 12, 1)

Há quem associe às férias um outro verbo: ESTAR.

É o tempo ideal para estar com os amigos e familiares à volta da mesa ou sentados no chão à sombra de uma árvore. Estar desconectados dos nossos electronic devices,estar na vida sem horário. Estar na natureza, simplesmente estar, sozinhos ou acompanhados, literalmente sem nada fazer, aproveitar cada minuto para procrastinar e sabe-nos tão bem.

 “Estive em…”, “estive com…”, serão expressões que ouvimos uns aos outros quando as férias terminam.

E assim se “mede” o sucesso das férias de cada um! E assim se poderá assumir que é para isso que as férias servem: para estar!

Impõe-se uma pergunta: como estamos?

No Novo Testamento não faltam momentos que nos falam do valor e da importância de simplesmente estar. Recordamos o episódio de Marta e Maria, irmãs de Lázaro quando Jesus diz: “Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada”. (Lc 10, 41-42)

Recordamos também aquele outro episódio do Evangelho de Mateus em que Pedro diz a Jesus: “Senhor que bom estarmos aqui. Se quiseres farei três tendas, uma para ti, outra para Moisés e uma para Elias”. (Mt, 17, 4)

A caminhar a passos largos para o final do nosso querido mês de agosto, deixemo-nos provocar por uma outra “unidade de medida”, um outro verbo: SER.

Atentemos o nosso olhar no facto de IR e SER, mesmo tendo exatamente a mesma grafia e fonologia conjugados no pretérito perfeito do indicativo, terem conteúdo bem diverso.

Conseguimos imaginar toda uma outra linguagem?

Estas férias fui acolhimento… fui escuta!
Estas férias fui contemplação… fui admiração!
Estas férias fui disponibilidade… fui presença!
Estas férias fui calma… fui generosidade!
Estas férias fui encontro… fui afetos!
Estas férias fui oração… fui confiança!
Estas férias fui alegria!
Estas férias fui esperança!

O descanso e lazer são essenciais para o crescimento e o desenvolvimento humano. (Const. RSCM §30-31c)

Conseguimos imaginar como voltamos de umas férias em que fomos a melhor versão de nós próprios?

Conseguimos imaginar o que isso produzirá na pessoa que seremos no tempo que mediará até novas férias?

Conseguimos imaginar toda uma outra linguagem ao contarmos o que vimos, os locais onde fomos, com quem estivemos, o que sentimos, o que guardamos, o que fomos?

Ainda vamos a tempo?!

Ir. Conceição Pereira
Luís Pedro de Sousa