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NOSSO PARA O MUNDO

Fernando Martins de Bulhões, é nome de batismo daquele que viria a ser Santo António de Lisboa.

Não se sabe o ano do seu nascimento, certo é, que terá nascido entre 1188 a 1195, junto à Sé de Lisboa, no local onde hoje se ergue a igreja que lhe foi dedicada. Dos seus pais pouco se sabe, a não ser, e ainda assim sem segurança, que tinham uma boa condição de vida, ainda que não pertencessem à alta nobreza e que procuraram dar uma educação bastante completa, o que viria a fazer dele um dos mais eloquentes pregadores da sua época, um dos Santos mais populares e universais da História da Igreja, sendo proclamado Doutor da Igreja por Pio XII.

O percurso

As capacidades intelectuais e a nobreza do seu caráter que o elevaram aos altares, despertam-nos espanto e curiosidade.

Talvez seja importante conhecer um pouco os meios, os lugares, as aspirações e motivações que levaram Fernando Martins de Bulhões, futuro Santo António a tão elevadas distinções e reconhecimento.

Tendo nascido junto à Sé de Lisboa, é na escola episcopal, que inicia os seus estudos. Estas escolas denominadas de escolas catedrais por se situarem anexadas ou nas imediações daquelas, nasceram da necessidade de valorização espiritual do clero e da sua maior preparação cultural. A igreja não podia descurar a cultura daqueles que a representavam, pois desta condição dependia o exercício do seu magistério. Fernando, terá sido enviado pelos pais para a escola catedral, quando tinha entre sete a dez anos, idade em que, normalmente os filhos de famílias nobres ou ricas ali ingressavam para obter uma boa educação.

O Trivium e Quadrivium, sistema educativo das escolas, durante a Idade Média, reuniam o conjunto das disciplinas. Referindo-se o Trivium às "artes da palavra" (gramática, retórica e dialética) e o Quadrivium às "artes dos números" (aritmética, geometria, música e astronomia). Nas escolas episcopais também se dava primazia ao ensino religioso e Fernando, terá, além do conhecimento religioso e da gramática, aprendido um pouco de dialética, de retórica e uns rudimentos de música e de contas, como era desejo dos seus pais quando o confiaram aos Cónegos da Sé. A língua em que ali aprendera a ler e a escrever foi o latim, não apenas necessariamente sobre o saltério, que era então de uso corrente e fundamental nestas escolas, mas muito possivelmente sobre alguns clássicos latinos e Padres da igreja. O canto tê-lo-á aprendido também como disciplina escolar e como exercício vocal. 

Terá sido esta a preparação cultural e religiosa que, Fernando, levou da escola anexa à Sé de Lisboa, quando aos quinze anos, por não haver escola universitária em Portugal, ingressa no Mosteiro de S. Vicente de Fora, pertencente à Ordem de Santo Agostinho.

Por esta altura os mosteiros eram polos de forte atração, onde os espíritos ansiosos de cultura e de aperfeiçoamento espiritual podiam ver satisfeitas as suas aspirações. Fernando, tinha em si este espírito, que a par de uma inteligência penetrante e memória fertilíssima, via ali a possibilidade de dar continuidade às suas aspirações. Dando entrada no Mosteiro de S. Vicente de Fora, ao fim de um ano de noviciado, onde aprendeu os preceitos da regra de Santo Agostinho, Fernando, faz a sua profissão religiosa e continua a sua educação religiosa e instrução literária durante cinco anos, aproximadamente.

Fosse porque os amigos, com a suas visitas frequentes e recordações dos prazeres mundanos que haviam desfrutado em comum, o distraiam e perturbavam, fosse porque esperasse encontrar no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, um ambiente de maior virtude, não custa a crer que para lá fosse transferido. Contudo, se o desejo de evoluir culturalmente foi completamente correspondido, pelo elevado nível de ensino, ali ministrado pelos que voltavam prestigiados de Paris, já quanto à ambiência de virtude que esperava encontrar, foi totalmente defraudado. 

De facto, as sucessivas doações régias e de particulares, haviam cumulado o mosteiro de riquezas e estas, juntamente com o doce conforto material, nunca foram meio apropriado para o desenvolvimento das virtudes cristãs. Assim, quando Fernando, entra em Santa Cruz, este já estava em decadência moral e por isso incapaz de satisfazer a sua ardência espiritual. Já ordenado Padre, nos seus sermões, são muitos os depoimentos, que tendo em vista a correção dos erros dos religiosos, os acusa de corrupção, soberba, gula, luxúria e hipocrisia.

O Franciscano

Terá sido, porventura, este desregramento, presenciado em Santa Cruz, o contacto com os Frades Franciscanos, o conhecimento do Martírio em Marrocos de cinco Franciscanos e a identificação com o seu modo de vida simples e humilde, que o levarão a abandonar a Ordem Agostiniana e a pedir admissão na Ordem Franciscana. Ao transferir-se para o eremitério de Santo Antão, nos Olivais, em Coimbra, local onde se instalou em 1217 a primeira comunidade Franciscana, Fernando, adota o nome de António, sob a invocação do Santo patrono deste ermitério, Santo Antão.

Os testemunhos dos franciscanos martirizados em Marrocos suscitam nele, a par do impulso da pregação, o desejo do mesmo fim. Parte, então, para Marrocos, mas atingido por uma doença, cujo clima africano não deu tréguas, é forçado a regressar a Portugal. No entanto, não parece ter sido esse o destino planeado pela providência, e como resultado de uma tempestade, o barco é desviado para a Sicília, Itália, onde aporta e onde foi acolhido pelos frades do conventinho de Messina. Não sendo conhecido naquele lugar, por humildade, virtude a que chamava mãe de todas as virtudes, nunca revelou, a sua origem, grau de instrução académica e teológica e até mesmo a sua ordenação sacerdotal. Passa então a viver no pequeno ermitério Monte Paolo, perto de Forli, onde, no silêncio encontrou o que então desejava: encontrar-se consigo e com Deus na oração, na contemplação e na penitência.

O pregador

Por forças do acaso ou da providência, por ocasião da ordenação de alguns confrades, devido à ausência do pregador esperado, Frei António, sem qualquer preparação, é convidado a pregar, deixando todos espantados com a sua oratória, falando das escrituras como se as possuísse diante de si.  Por todos os lugares onde passava a sua pregação evangélica, em que o amor a Deus e o amor ao próximo, o Amor Gémeo como lhes chamava, junto com a humildade, sustentada pela sua própria vida e por ela exemplarmente explicitada, encontraram forte eco popular, atribuindo-lhe feitos prodigiosos que contribuíram para o crescimento da sua fama de santidade.

Em 1224 por sugestão de S. Francisco de Assis, vai lecionar teologia na universidade de Bolonha (Itália), tendo sido em seguida enviado para as universidades de Montpellier, Toulouse e Limoges (França). 

No final de 1227, Frei António regressou a Itália e até 1230 foi provincial da Ordem, em Milão e em Pádua. Ainda em 1230, Santo Antônio solicitou ao papa a dispensa de suas funções no cargo de Provincial, para se dedicar à pregação e contemplação, permanecendo no mosteiro que havia fundado em Pádua.

Com uma saúde frágil, Frei António, recolheu-se ao convento de Arcella, perto de Pádua, onde escreveu uma série de sermões para os domingos e dias festivos.

Morre em Pádua, Itália, no dia 13 de junho de 1231. O prestígio da sua ação apostólica e a convicção geral da sua santidade, alvoraçaram as populações italianas, sobretudo as da região de Pádua, que logo após a sua morte pediram, por intermédio das autoridades eclesiásticas e civis a sua canonização imediata. Assim, em menos de um ano após sua morte, Frei António foi canonizado, tornando-se, Santo António, um dos santos mais rapidamente canonizados da história do Igreja. 

Nascido em Lisboa, falecido nas proximidades de Pádua, é conhecido tanto como Santo António de Lisboa como Santo António de Pádua, mas a sua devoção, como era o seu amor, é universal.

As festas de Santo António chegaram!
Que por sua intercessão
Não nos falte a alegria e o pão.
Que por sua intercessão,
de qualquer outro,
seja ele quem for,
de que origem for,
eu me torne irmão.

António Rocha