Não obstante as semelhanças, não se trata de uma oferta de emprego. Na verdade, as semelhanças ficam-se apenas e só pelas aparências. Comecemos por nos deter na etimologia da palavra.
Derivada do latim “consecratus”, remete-nos para a ideia de “tornar sagrado”. Exposta a origem, fica clara a profundidade como a vinculação entre o que é consagrado e o divino. Se quisermos, consagrado é alguém que foi dedicado a um propósito diferente, especial que transcende o comum.
Voltemos às perguntas de quem se confronta com o “anúncio”.
Quem precisa?
O mundo para uma necessária e urgente transformação!
O mundo que carece de uma renovação espiritual. O mundo sedento de esperança, que vive “atolado” na lógica do lucro, ferido pelos atentados contra a mãe Terra, prisioneiro de antigas e novas escravidões, como disse o Papa Francisco na homilia da Missa da Noite de Natal que assinalou o início do Jubileu 2025.
Esse mundo que é de todas as geografias, condições, estatutos, cores, géneros, idades!
Qual o perfil?
Segundo a “regra”, o perfil tem de ser pobre, casto e obediente, uma vez que os votos são, precisamente, de pobreza castidade e obediência, sabemo-lo! Mas acrescentemos-lhe outras características, talvez mais apelativas ao perfil dos “candidatos”:
GENUINAMENTE ALEGRES
Precisamos de gente feliz! De bem com a vida e consigo, que vive com alegria a sua vocação. Não precisam de ser eufóricos, basta que sejam genuinamente alegres. Gente chamada a experimentar e mostrar que Deus é capaz de preencher o seu coração, sendo feliz sem necessidade de procurar noutro lugar a felicidade.
Gente capaz de dar corpo à máxima do Papa: “Onde estão os religiosos, há alegria!”
ASSUMIDAMENTE PROFÉTICOS
Precisamos de gente que tem voz! Não precisa de andar com megafone na mão ou consumir-se por likes. Basta que seja assumidamente profética, que fale com gestos mais do que com as vestes. Uma voz que seja capaz de despertar o mundo, testemunhando com a vida a vida de Jesus. Essa será a força da profecia!
PERITOS EM COMUNHÃO
Precisamos de gente que quer ser com! S. João Paulo II apontou ao mundo a necessidade de uma “espiritualidade da comunhão”. Não há como sonhá-la sem que os consagrados e as consagradas estejam na vanguarda dessa espiritualidade. Na Carta Apostólica Novo milénio ineunte, Francisco formulou o mesmo propósito com outra redação: “fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão”.
CORAÇÕES DE VISTAS LARGAS
Precisamos de gente que vai! Capaz de sair de si mesma, de se dar, ir às “periferias existenciais”, atenta ao que pede Deus e a humanidade de hoje e que lhe corresponda com “gestos concretos de acolhimento dos refugiados, de solidariedade com os pobres, de criatividade na catequese, no anúncio do Evangelho, na iniciação à vida de oração.” *
Precisam-se consagrados e consagradas que elevem os irmãos.
E como qualquer relação implica sempre duas partes, importa não falar só do “candidato”. Precisa-se uma Igreja disponível para acolher o perfil! Uma igreja que forme mais e formate menos, que veja riqueza na diversidade, que seja capaz de repensar os métodos, que abra horizontes, que seja libertadora. As vidas que se assumem, responsabilizam, comprometem, dedicam e servem são resultado de escolhas livres. Essas vidas são alegres e geram alegria, simplesmente pela beleza de pertencerem a Deus.
Numa espécie de declaração de interesses final, refira-se que se justifica que este artigo tenha sido escrito por um leigo, por duas ordens de razão: primeira, como dissemos anteriormente, porque a necessidade de consagrados como os acima descritos, bem entendido, é sentida pelos próprios leigos; segunda, porque os papéis também se podem e (devem) inverter. Depois de nos habituarmos a ouvir consagrados a dizer-nos muitas e variadas coisas sobre a vida dos leigos, as suas uniões, profissões, relações, escolhas ou vidas, não parecerá mal que a “homilia” seja agora feita a partir da assembleia.
Nota: Só se aceitam candidaturas que correspondam ao perfil.
* Carta Apostólica do Papa Francisco às pessoas consagradas para a proclamação do Ano da Vida Consagrada.
Luís Pedro de Sousa
Professor