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UM PLANO PARA UM CORAÇÃO COMPASSIVO

Ouve o que diz a mulher vestida de sol
quando caminha no cimo das árvores:
“a que distância deixaste o coração?”
J. Tolentino Mendonça

Que desafios traz um Plano de Pastoral? Todos ou nenhuns, de ti depende.

Deus fez a Adão uma pergunta que nos é dirigida a cada momento: “Onde estás?”, ou dito de outro modo: “onde se demora o teu coração?” Jesus censura os fariseus porque são sábios na sabedoria das coisas cá de baixo, mas não alçam o olhar para ler os “sinais dos tempos”. Dito de outro modo: como escuta o teu coração o coração do mundo?
Entre os nossos passos, de um lado, e a profusão de sinais, gritos, vozes fortes ou sussurradas que o mundo nos lança, do outro, precisamos de um mapa, um plano que nos lance adiante: uma espécie de bússola apontada a norte (diríamos ao nosso Oriente) que vá indicando a direção.

Temos de tomar consciência que podemos viver sonolentos, sonâmbulos ou simplesmente acomodados. Esse entorpecimento ou insensibilidade tolda os olhos para o campo de missão. No entanto, nós somos da religião de um Deus que fala, se dá a conhecer e se mistura com a história pessoal de cada um e com a história desta humanidade expectante (“És tu quem há-de vir ou devemos esperar outro?”), sofredora e jubilosa.
É tempo de despertar (“Levantai os olhos para a seara”, diz o Revelador do Pai) e estabelecer um vínculo com o nosso mundo: escutar, estar atento ao que nos chega. É tempo, e já não é cedo, de ouvir e responder à pergunta feita a Caim “Que fizeste do teu irmão”?

É o mundo no seu grito que nos pede deslocação: do centro para a periferia e da periferia para o centro da alma, da distração para a atenção e da atenção para a ação; do alheamento para o coração e do coração para o mundo. Nós somos as mãos e os pés de Deus, o sacramento, o sinal visível do Reino da verdade e do amor neste vasto campo onde sombras e luz se digladiam num combate perpétuo. “Onde estás? Que fizeste do teu irmão?”  Sentinela, que vês na noite do mundo? Quem senão tu e tantos outros podem antecipar a primeira luz da manhã, gritando por praças e ruas a vitória indefetível do amor?

Um mapa, um plano de ação, uma bússola.

Nesta pequenina parcela do povo de Deus, cai-nos no regaço um plano de pastoral: linhas de ação e compromisso com travo a IRSCM.

Pega nele, mas, antes de te pores a fazer (somos mestres do fazer), põe-te à escuta como Maria: verás como tudo parte de um coração silencioso que escuta. Segundo uma tradução, foi isso que Salomão respondeu à oferta de Deus. Ele pediu: “Dá-me um coração que escuta”. Escutamos aquele que fala e pedimos àquele que tudo pode um coração em fogo, o “fogo sagrado” que habitava a vida de Gailhac. É deste lugar incendiado que pode e vai partir tudo: um amor bondoso, a procura de outros para o serviço compassivo a fim de juntos levarmos a vida abundante à terra das sombras. Bastaria isto, juntarmo-nos a Maria, aos Apóstolos e a muitos desde então, pedindo o dom do fogo para as nossas vidas e para a vida do mundo.

Nesta pequenina parcela do povo de Deus que somos nós, toma o “mapa” nas tuas mãos.

Lê-o devagar, pausadamente. Que ele possa ser um guia para o teu trabalho. Possa este plano sintonizar-nos com o carisma do Instituto do Sagrado Coração de Maria e ser  um ponto de partida e uma orientação firme e segura para o trabalho que realizamos no cuidado dos frágeis, na escuta no espaço da escola, no acolhimento das vidas que nos são confiadas. É isso a recém descoberta sinodalidade: caminharmos juntos. E caminharmos juntos na fé que nos é dada, ancorados na promessa segura da palavra de Jesus. Caminharmos juntos no zelo, essa paixão abrasadora a que chegamos não por golpes de vontade, mas pela súplica madrugadora por um coração abrasado no amor.

Como escreveu S. Isaac o sírio: "O que é um coração compassivo? É um coração ardente para toda a criação, para os homens, para os pássaros, para os animais, para os demónios e para tudo o que existe. Quando ele os contempla ou os recorda, os seus olhos enchem-se de lágrimas. Por causa da intensa e veemente misericórdia que se apodera do seu coração, e da grande compaixão, o coração do homem humilha-se, e ele não pode suportar ouvir ou ver qualquer dano, ou a menor dor, infligida a qualquer criatura. Por isso, ele ora com lágrimas em cada momento, mesmo pelos animais irracionais, pelos inimigos da verdade e por aqueles que o prejudicam, para que sejam protegidos e recebam misericórdia. E também por causa da sua grande misericórdia, ele reza mesmo por eles para que sejam perdoados. Tal é a compaixão que há no coração que se assemelha a Deus." Que assim possa ser.

Pedro Martins
Professor