Fazemo-lo com palavras, com gestos, com olhares, mas também com silêncios eloquentes que se intervalam. Inventámos línguas e linguagens, com gramáticas diversas, códigos e símbolos, condutas e normas, basilares na relação com o outro. É na comunicação com cada irmão que a nossa humanidade se reconhece.
Oportunidade de crescimento
No dia 26 de setembro comemora-se o Dia Europeu das Línguas, uma iniciativa conjunta do Conselho da Europa e da Comissão Europeia, com o objetivo de celebrar a riqueza do património linguístico e a pluralidade cultural do continente europeu. Esta diversidade é vista como uma via para alcançar uma maior compreensão intercultural, no entendimento que a divergência linguística não representa uma barreira, mas uma oportunidade de crescimento e conhecimento do nosso semelhante.
Dizem que em Babel as vozes se confundiram, não se entenderam. Neste ruído, talvez possamos entender que este acontecimento não tenha sido castigo, mas semente, sinal de luz e de esperança. Semente de diversidade, de proposta de empatia, de redescoberta individual. Este desencontro revelou-se ser um grande presente. De cada língua brotou uma nova janela, que revelou um outro olhar sobre o mundo. Percebeu-se que entre línguas é preciso abrir espaços. Nestes espaços surge o convite à criação de pontes, à escuta do que cada um tem para dizer, de acordo com a sua condição de chegada ao mundo, não o acolhendo no ruído que isso nos possa parecer, mas na individualidade que essa identidade representa. Porque compreender o outro nem sempre é falar igual, é tantas outras vezes acolhê-lo na sua unicidade, tão simplesmente. Será nesta diversidade que tenhamos a oportunidade de fazer crescer a nossa humanidade.
E é neste convite à nossa humanidade plena que a empatia se propõe como uma linguagem que aproxima e que urge aprender e praticar e que apresenta uma gramática universal, a do coração. O Padre Jean Gailhac lembra-nos que “para os corações não há distância.” (GS/7/X/76/A. Vol. I, p. 272.) Os corações que se dão como morada de Deus comungam também eles desta linguagem universal, que extrapola as barreiras espaciais e da temporalidade. O nosso cordão umbilical liga-nos a uma identidade linguística, mas o nosso coração não conhece fronteiras.
A linguagem da empatia
A linguagem da empatia deveria ser a língua materna da humanidade, pois rechearia toda e qualquer comunicação, em qualquer outra língua, de espaço para o encontro, a paciência, a delicadeza, numa escuta sem pressa. Uma comunicação que foge do imediato, da agenda, do correr dos dias. A gramática da linguagem da empatia seria a primeira a ser conhecida, antes da aprendizagem das gramáticas individuais de cada língua. Não haveria lugar a erros de ortografia, com a premissa que entendêssemos que os silêncios são o que o outro por vezes mais necessita, que um olhar demorado é mais valioso que uma pergunta sem tempo para a resposta. E também que a escuta é muitas vezes mais transformadora do que a resposta. A linguagem da empatia acolhe sempre o outro em primeiro de mim.
E como na aprendizagem de qualquer idioma, a linguagem da empatia consolida-se na prática. As nossas interações na família, as vivências na escola, as nossas deambulações pelas cidades, entre tantos outros exemplos, todas estas são oportunidades para praticar empatia, essa capacidade rara de escutar com o coração.
Educar para a comunicação empática
Educar para a comunicação empática é dotar as nossas crianças e jovens para o conhecimento da pluralidade de idiomas, sempre com os olhos postos no coração e na gramática da empatia que ele nos traz e da qual nos devemos amparar sempre que comunicamos com o nosso irmão. Ao comunicarmos empaticamente na nossa e noutras línguas, transmitimos ideias, construímos identidade, sentido, e também algo mais grandioso – humanidade. Educar para a comunicação empática é educar para a responsabilidade na transformação do mundo. Como usamos as palavras que sabemos? Que fim lhes damos? Que tom? Que sabor? Quão oportunas são as minhas palavras? Que silêncios dedico às minhas intervenções para que o outro se relacione e interaja com o que verbalizo? Num mundo em que nunca se comunicou tanto, mas que paradoxalmente se veicula tão pouco, que palavras, símbolos, códigos escolhemos para conferir profundidade aos nossos diálogos?
A história de Babel lembra-nos que cada língua é diferença e cada palavra um risco, porque podemos falhar o entendimento, mas será sempre nesse gesto de humanidade de nos oferecermos ao outro que a comunicação se cumpre e a empatia ajuda-nos nesse propósito.
Neste dia em que celebramos as línguas diversas da nossa Europa, que saibamos atravessar ruídos, e encontrar equilíbrios que nos tragam salubridade na comunicação, privilegiando a gramática da empatia de mãos dadas com a individualidade linguística do outro, na promoção de uma humanidade de escuta e paz.
Susana Almeida
Professora