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AS MÃES QUE PRECISAMOS

Recebi com especial emoção o convite das Religiosas do Sagrado Coração de Maria para partilhar uma reflexão sobre o tema “As Mães que precisamos”, por ocasião do Dia da Mãe.

E aceitei este desafio por reconhecer a centralidade de valores fundamentais como a dignidade humana, a fraternidade e o cuidado com o Outro, especialmente com as Crianças e com as mulheres que desempenham o papel fundamental de Mães.

Neste tempo de tantas incertezas e desafios, a figura materna reveste-se de uma importância ainda maior. Precisamos de Mães que conheçam a sua “força” e a sua “fragilidade”, ambas fortalecidas pela “coragem” e “alento vital” único e especial das Mães. Mães que, apesar das aflições e problemas, encontram sempre força interior e alento. Como nos lembra António Ramos Rosa: “Sempre uma força te erguia vertical, / sempre o alento da tua fé, o prodigioso alento / a que se chama Deus”.

Precisamos de Mães que se coloquem no centro do Amor, irradiando esse anseio de afecto humano e divino; Mães cujo coração todos acolhe. Como bem expressou D. Américo Aguiar, em Fátima: «No coração da Mãe cabem sempre todos». Um coração generoso que se estende para além dos seus filhos biológicos, abraçando a comunidade e contribuindo para um mundo mais fraterno.

As Mães que precisamos são aquelas que reconhecem na Criança “a razão primeira da sua luta”, nas palavras de Matilde Rosa Araújo. Mães que, com ternura e cuidado, protegem os seus filhos, mas procuram torná-los livres e felizes, respeitando a sua dignidade individual.

O papel da Mãe é, antes de mais, um acto de aceitação incondicional.

“Ser Mãe é aceitar tudo”. É acolher em si um outro ser, tornando-se o seu mundo, nutrindo-o e amparando-o. É permitir que esse ser siga o seu próprio caminho, mas estando sempre pronta a recebê-lo. Ser Mãe é dar-se como alimento, transformando-se na vida daquele a quem se entrega, aceitando qualquer resultado e resposta.

Uma Mãe, mais do que dar um filho ao mundo, deve dar um mundo ao filho: um lugar cheio de esperança e sonhos, com as ferramentas para os concretizar. Esta entrega incondicional, este amor puro e concreto, humano e divino, é a essência da maternidade. É viver numa amplitude de emoções, da alegria à tristeza, da esperança ao desespero, mantendo a serenidade para transmitir paz aos seus filhos.

Uma boa Mãe é um mistério de simplicidade, presença e silêncio, oferecendo sabedoria e, acima de tudo, amor.

Precisamos, pois, de Mães que perdoem sempre, mesmo com o coração dorido: Mães que aceitam tudo sem exigir nada, que nos ensinam a ser mais fortes que os nossos medos, através do seu exemplo de grandeza e humildade. A Mãe é aquela que nos vê “a alma só de nos admirar o olhar”. Ser Mãe é viver plenamente entre dois corações.

Defendi sempre o papel central da Família no crescimento saudável da Criança. Os princípios proclamados na Declaração e na Convenção sobre os Direitos da Criança reconhecem o direito a um desenvolvimento integral e harmonioso da sua personalidade, num ambiente familiar de felicidade, amor e compreensão. É na família que se estabelecem as relações profundas de afecto que marcam os primeiros anos de vida da Criança, sendo os pais as suas figuras de referência.

Precisamos construir uma cidadania mundial fundada sobre os direitos humanos e a responsabilidade dos cidadãos.

E, no seio dessa cidadania, as Mães desempenham um papel insubstituível na transmissão de valores e na educação para a fraternidade. É preciso fazer com que as pessoas não só aceitem a existência da cultura do outro, mas aspirem também a receber um enriquecimento da mesma e a dar-lhe aquilo que possui de bem, de verdade e de beleza. As Mães que precisamos são aquelas que cultivam nos seus filhos a abertura ao mundo e o respeito pela dignidade de cada ser humano.

Recordo as palavras do Papa Bento XVI, no encontro, no Centro Cultural de Belém, com pessoas ligadas à cultura, na sua visita a Portugal: “Fazei coisas belas, mas sobretudo tornai as vossas Vidas lugares de beleza”. Acrescentando, ainda, que, cada um de nós ajude a construir a civilização do amor e se empenhe, com esperança activa, para que as injustiças sociais não se sobreponham às pessoas e às relações humanas. As Mães que precisamos são aquelas que transformam os seus lares e as suas vidas em lugares de beleza, de afecto e de compreensão, ajudando, assim, a construir a “civilização do amor”.

Lembrando Mounier, numa afirmação que tenho como ideal de Vida: “só existimos quando existimos para os outros”, as Mães que precisamos são aquelas que vivem para os seus filhos, para as suas famílias e para a comunidade, num movimento de interacção e fraternidade, cuidando do bem comum.

D. António Ferreira Gomes dizia que os poetas são aqueles que nunca perderam a capacidade de sonhar e de olhar o mundo com os olhos espantados das Crianças. As Mães que precisamos mantêm essa capacidade de sonhar e de inspirar sonhos nos seus filhos, cultivando a beleza nos pequenos gestos do dia-a-dia e ensinando os filhos a encontrar poesia na vida, mesmo nos momentos de dificuldade.

No fundo, as Mães que precisamos são mulheres fortes e frágeis, corajosas e ternurentas, que amam incondicionalmente, que educam para a liberdade e para a fraternidade, que protegem a dignidade dos seus filhos e contribuem, com o seu amor e dedicação, para um mundo mais justo e humano. São mulheres que acolhem com amor e transformam as suas lágrimas em beleza, simbolizando um mundo mais fraterno e de paz. São, afinal, o sinal mais vivo do amor, a mão da própria vida que se nos estende, aceitando o desafio que as Crianças nos colocam: “Sê digno de viver! Olha em frente!” (nas palavras de Matilde Rosa Araújo).

Neste Dia da Mãe, celebremos todas as Mães que, com a sua entrega e amor, moldam o presente e inspiram o futuro, construindo, dia após dia, a civilização do afecto, com a sua Luz.

Manuela Ramalho Eanes