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EDUCAÇÃO,
DO REGRESSO A NAZARÉ AOS NOSSOS DIAS

Ajudar a “crescer em sabedoria, estatura e em graça”, tendo nós, cristãos, o exemplo da pessoa em que Jesus se tornou, parece ser um caminho que oferece total garantia de sucesso.

“Depois desceu com eles, voltou para Nazaré e era-lhes obediente. (…)  E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens.”

Lucas 2, 51

"Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça"

Gosto da forma igualitária com que esta expressão bíblica coloca ao mesmo nível estas três dimensões do crescimento de Jesus e, por conseguinte, do crescimento humano. Não significando certamente a mesma coisa, se quisermos encontrar, atualmente, termos comparáveis, talvez estes nos possam servir: Conhecimento, Corpo e Caráter.

O conhecimento e o desenvolvimento de competências, tal como em Jesus, continuam a ser a melhor forma de garantir uma vida significativa, ativa e sustentável, capaz de entender o mundo e colaborar na sua transformação.
Respeitar e cuidar o Corpo, seu e dos outros, é reconhecer e entender a originalidade de cada um, na sua dimensão física, como ser único. O corpo é o meio pelo qual comunicamos e nos relacionamos, é manifestação.

Biblicamente reconhecido como templo sagrado, o corpo é comparável a uma arca que transporta em si o tesouro mais precioso. Atentar contra ela é violentar desde logo o tesouro que contém. Dá que pensar não dá?!

O Caráter, muito além da imagem ou quaisquer outro tipo de possibilidades, resume todo um leque de virtudes que tornam a pessoa, verdadeiramente Pessoa. Julgo que, em relação a Jesus, o que mais movia os seus discípulos a segui-Lo era a docilidade e assertividade do seu caráter, quer nas palavras quer nas ações. O seu caráter era a sua Graça, uma graça inquietante, desconcertante e por isso transformadora.   

Promover o conhecimento e potencializar as competências; valorizar e cuidar o corpo, não pela imagem, mas como meio de relação e comunicação; formar o caráter no sentido de si e do outro é proporcionar uma Educação Integral, a única capaz de orientar a Humanidade pelo rumo certo. Aquela de que, certamente, Jesus foi alvo.   Quem desenvolve ou desenvolveu a sua atividade profissional no terreno, na área da Educação, facilmente consegue perceber pela forma de estar, nas atitudes de uma criança ou adolescente, a atenção, a proteção, o amor que lhe são dedicados, os valores e responsabilidades incutidos pela família.

Os ditados populares que dizem “é de pequenino que se torce o pepino” e “pelos frutos se conhece a árvore”, continuam atualíssimos. Continua atual, também, mas muitas vezes negligenciada, a consideração de que essa tarefa de cariz “agrícola” deve ser feita em “terreno” familiar.
Estando certo de que todos os pais querem o melhor para o seu filho, que é seu desejo que o mesmo viva numa sociedade mais democrática, justa e humana, não raras vezes, a falta de atenção e rigor na sua educação coloca em risco o seu desenvolvimento como pessoa e o seu futuro como cidadão responsável.

Ajudar a “crescer em sabedoria, estatura e em graça”, tendo nós, cristãos, o exemplo da pessoa em que Jesus se tornou, parece ser um caminho que oferece total garantia de sucesso.

Talvez não seja preciso repensar o que se pretende com a Educação, temos orientações modelo de 2000 e muitos anos, mas com certeza é necessário continuar a rever os métodos e os meios, humanos, materiais e tecnológicos, que permitam educar de forma equilibrada todas as dimensões. “Explorar” as crianças e adolescentes com vista unicamente ao desenvolvimento cognitivo é reduzir o ser humano a génios, sem corpo e sem graça.

Celebrámos há poucos dias o dia mundial da criança, relembrámos, assinalámos os seus direitos e, no entanto, passados que são noventa e nove anos da publicação do texto da primeira Declaração dos Direitos da Criança (1924), continuamos a assistir às mais variadas formas de atentar contra a sua dignidade. Dizemos que “as crianças são o melhor do mundo…” e são-no, de facto, porém e apesar desse reconhecimento e possibilidades de que dispomos, não conseguimos erradicar o sofrimento a que tantas estão condenadas, seja pela fome, seja pela violência psíquica e/ou física. O seu saudável e feliz desenvolvimento continua a adiar-se, talvez porque em nós adultos, nos falte um pouco, senão muito da Graça, do Caráter de Jesus.

Cuidar é preciso, mas não chega!
Cuidar com o Coração é urgente e será, certamente, o que nos basta!

Tozé Rocha