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PELO QUE SOU E PELO QUE AMBICIONO 

“Os teus pais não te deram educação?”. Certamente, muitos de nós teremos já ouvido esta exclamação proferida em tom de repreensão. Quem sabe, talvez nós próprios tenhamos sido os seus recetores…

De facto, a nossa formação enquanto indivíduos começa em casa. Especialmente nas primeiras fases da nossa vida, a família – e, especialmente, os pais – desempenham um papel estrutural do nosso desenvolvimento e crescimento pessoal. É com eles que adquirimos muitos dos valores que irão guiar o nosso projeto de vida, é com eles que aprendemos a dizer “por favor” e “obrigado/a”. Não posso, então, deixar de enaltecer o papel dos pais e da família na formação de gerações jovens íntegras, tolerantes, e preocupadas com o bem comum. Contudo, o ralhete com que abro esta reflexão parece remeter para a ideia de que a transmissão de valores é um dever exclusivo dos pais (ou, num sentido mais lato, da família), minimizando, assim, o papel de tantos outros que, em diferentes contextos e etapas do nosso percurso, se assumem também como verdadeiros educadores. 

Dum ponto de vista utilitário, rapidamente concluímos que, quer seja na escola, na universidade, ou no emprego, é nestes locais que passamos grande parte do nosso tempo. Assim, é inevitável que nos deixemos influenciar: podemos ver, num professor ou auxiliar de educação, um exemplo a seguir nas relações interpessoais; podemos olhar para um colega de curso e reconhecer virtudes de organização e disciplina; podemos estabelecer objetivos de carreira com base no percurso profissional de um colega de trabalho.

Com sorte, teremos até quem se preocupe o suficiente com a nossa formação para exercer em nós esta influência de forma ativa, elogiando quando o elogio é merecido e chamando à atenção quando uma palavra mais dura é necessária.

De uma forma ou outra, integramos no nosso projeto de vida os frutos das nossas relações com quem connosco convive diariamente nestes espaços. 

Por outro lado, a compreensão dos desafios e implicações sociais e éticos das diferentes áreas de conhecimento é fundamental para uma atividade profissional significativa e bem orientada, assente num código de conduta coeso. Assim, é fundamentalmente dever dos professores fomentar uma visão abrangente da área de estudo, já que o simples conhecimento teórico e técnico – embora importante – se torna insuficiente para a formação de uma geração íntegra de futuros profissionais. À medida que progredimos na nossa jornada académica, estudamos assuntos cada vez mais avançados e especializados, pelo que este papel se torna mais notório na transição para o ensino superior. 

Contudo, a sensibilidade pelo outro e a capacidade de entender o seu ponto de vista são competências que, necessariamente, vêm de trás, não sendo, por isso, possível dissociar as diferentes etapas da nossa educação.

Acredito, por isso, que a educação é uma jornada na qual intervêm diversos agentes em diferentes espaços e momentos: desde os pais e a família em casa, passando pelos professores e auxiliares de ação educativa na escola, até aos docentes na universidade e os colegas no emprego. É através da educação que, de forma construtiva, somos moldados enquanto indivíduos, gerações e sociedades, revestindo-se então de uma importância fundamental na promoção de um código de valores coesos nas diferentes fases da nossa vida – seja ela familiar, profissional, relacional, vocacional, ou qualquer outra. Pelo que sou hoje e ambiciono ser amanhã, um sincero obrigado a todos os meus educadores

Tomás Freitas Rocha
Antigo aluno do CNSR