No entanto esta construção coletiva depende de cada pessoa, no sítio onde se encontra e na sua situação particular. Que Portugal merecemos? Que país queremos construir e deixar aos nossos filhos? O mérito conquista-se com convicção, dedicação e trabalho. Se nos soubermos respeitar e unir esforços só podemos esperar um país melhor.
Acredito que merecemos um país de paz, que sabe dialogar, debater pontos de vista diferentes sobre todos os assuntos; merecemos um país justo, que sabe tratar cada pessoa com dignidade, proteger, promover, incluir e garantir oportunidades. Merecemos um país positivo, que olha para o futuro com a certeza do caminho que quer percorrer. Merecemos um país feliz, orgulhoso do seu passado, mas também um país criativo, que sabe sonhar um futuro melhor. Merecemos um país caritativo onde as pessoas se olham com solidariedade e se dispõem à amizade fraterna.
Merecemos um país que combata as desigualdades
Este país que merecemos é um país construído por cada pessoa que o habita e um país onde tudo e todos estão interligados, onde o Amor pode ditar as regras e nos levar à ação.
Sabemos que o país em que vivemos conta atualmente com 20% da população em risco de pobreza extrema e sabemos também que este valor teima em não baixar. A falta de habitação é apontada como o fator crítico no combate à pobreza e vemos esforços de todos os setores da nossa sociedade para a combater. O governo procura soluções e a sociedade civil também, a Igreja mobiliza-se no âmbito da sua intervenção social e há projetos de apoio e acompanhamento de famílias em dificuldades que assentam na convicção de que a garantia de um sítio para viver se torna no pilar em torno do qual se torna possível o emprego, a educação dos filhos, ... ou seja onde se torna concreto o sonho de um verdadeiro projeto de vida.
O isolamento dos mais velhos, sobretudo nos centros urbanos, é um assunto de toda a sociedade e onde cada pessoa pode fazer a diferença. Se pudermos dedicar algum tempo das nossas vidas a cuidarmos uns dos outros vamos construir uma sociedade mais forte, mais coesa. Esta dedicação mútua centra-nos no essencial – as relações humanas – com todos os benefícios associados, incluindo a diminuição da dependência energética e digital em que todas as faixas etárias e classes sociais se encontram mergulhadas. Merecemos sonhar um país solidário, cuidador e atento a cada fase da vida dos seus habitantes.
As comunidades migrantes são comunidades onde as pessoas que se podem encontrar em situação de grande vulnerabilidade com a agravante de estar longe do seu país e das suas famílias. As comunidades migrantes contêm uma riqueza cultural e humana que nos faz um país mais completo; que em sendo acolhidas e incluídas irão contribuir para o nosso desenvolvimento humano integral significativamente. Merecemos que Portugal mantenha a sua tradição de saber acolher bem.
Merecemos um país que respeite a dignidade humana
A dignidade de uma pessoa, que se encontra em situação de fragilidade, é afetada quando se encontra com a solidão, com a exclusão, ou seja, com a indiferença. A dignidade é um valor inegociável e inerente a cada ser humano como podemos ler na Declaração Dignitas infinitae do Dicastério para a Doutrina da Fé publicada em abril de 2024: “Uma dignidade infinita, inalienavelmente fundada no seu próprio ser, é inerente a cada pessoa humana, para além de toda circunstância e em qualquer estado ou situação se encontre.” E na mesma declaração lemos que compete a cada pessoa e comunidade “a tarefa da concreta e efetiva realização da dignidade humana”. A promoção da dignidade da pessoa combate a pobreza e a exclusão social, que é a missão da Cáritas: na Cáritas em Lisboa trabalhamos na Igreja e pela Igreja, com todos. Temos que ser cada um e todos a evitar e defender qualquer pessoa que se encontre numa situação de injustiça e ameaça da sua dignidade. Acredito que merecemos um país em que não está em causa a dignidade como valor fundamental do ser humano.
As situações de fragilidade são inerentes à condição humana: a doença, a deficiência, a ausência de paz e as situações de injustiça social são comuns ao percurso de vida de qualquer pessoa. A fragilidade é um assunto que nos diz respeito e com o qual seremos, em algum momento, confrontados. Devemos por isso entender que as nossas ações, mesmo as mais pequenas, podem fazer muita diferença na vida dos que nos estão mais próximos. Merecemos viver numa sociedade que age rapidamente em qualquer situação de fragilidade, para o bem comum.
Na sua encíclica Dilexit Nos, no número 28 o Papa Francisco lembra que “Só a partir do coração é que as nossas comunidades serão capazes de unir e pacificar os diferentes intelectos e vontades, para que o Espírito nos possa guiar como uma rede de irmãos, porque a pacificação é também uma tarefa do coração.”
Gostava por isso de propor o Amor como critério de ação. Este Amor maior, alicerçado na dignidade da pessoa e na consciência de que somos profundamente amados e que tudo está interligado, responsabiliza-nos e leva-nos a agir para construir o país que merecemos, o Portugal que os nossos filhos merecem também.
Ousemos sonhar e concretizar este país que merecemos, vamos colocar o Amor como o motor das nossas ações e construir o Portugal que merecemos.
Carmo Diniz
Diretora da Cáritas Lisboa