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A AVÓ, A MÃE E A IRMÃ

As nossas Marias da vida e do amor são aquelas que se apostam a educar-nos o olhar.

Nesse tempo ainda era possível encontrar Deus pelos baldios
[D. José Tolentino Mendonça em "A noite abre meus olhos"]

A Avó Maria

Ergue os olhos como quem procura a Graça porque d`Ela conhece a promessa.
Os sulcos, marcados na pele, revelam a dureza de quem trabalha para a Terra Prometida.
Lança o arado na terra como quem sabe, sabendo que o seu lugar é caminho.
Por isso, semeia e cultiva esperança.
E torna-se chão de alento, de vida, de amor.
Ela é colo feito na simplicidade e na humildade de quem tem a coragem de reconhecer que viver não é acabar mas sempre recomeçar.

Bendita és tu entre as mulheres
[Lc 1,42]

A Mãe Maria

É a Mulher paciente, senhora da Paz que é vida realizada.
Corajosamente, do mistério da vida, ela é personificação oblativa e incondicional do “Faça-se em mim” original e originante; ela é acolhimento do Dom que se faz dádiva, gerando carne humanizada.
Para isso, ela move-se e comove-se nas suas entranhas, despertando a dedicação, o cuidar, o espanto.
Ela é força e sacrifício que declaram amor por quem nela é gerado e que com ela crescerá no entusiasmo de um olhar sentido sobre a humanidade.
É alegria, abraço, apoio.
É a Casa onde se regressa. Sempre.

Ele guardar-vos-á como a menina dos seus olhos.
[Pe. Jean Gailhac]

A Irmã Maria

Inspira, deixa o ar entrar. Permite que uma ventania impetuosa vagueie no seu espaço interior. Deixa-se visitar por Deus. Ele entrou na sua casa e ficou.
Salva-guarda-se n’Ele e por Ele.
Por isso, vive de porta aberta multiplicando o pão para quem bate à procura de alimento.
É mulher que escuta e acolhe, num amor dado que extravasa fronteiras.
Está ao serviço de um Algo sempre Maior e Mais longe.
Dá a vida. Dá vida... dando-se.


Todos temos uma destas ou outras Marias das e nas nossas vidas.
Tratam-se de Mulheres que nos encontram e em quem nós nos encontramos. Encontros esses em que se sente a generosidade humanizadora do rosto e da palavra, do colo e da mão; onde se saboreia o banquete da vida que se faz acto de comunhão, que se faz oblação atenciosa, vibrante, vivificadora.

Nas suas fraquezas e limitações, são mulheres que ousam viver, não apenas subsistindo, mas gerando. E, de facto, a vida é esta ousadia, é este aventurar-se livre a uma novidade que não se recolhe numa definição pré-conceituosa que perpetua a repetição mas que se gera na esperança. Na verdade, o Hoje faz-se na esperança do Amanhã; faz-se para um Amanhã novo.

As nossas Marias são a expressão presente e bela deste Amanhã que caracteriza e desafia o Hoje da Vida. Da Vida que continuamente gera o desconhecido, amando-o ainda antes dele o ser – dando-lhe origem porque o ama.

Assim, nelas também aprendemos a amar. Um amor que não é uma mera e sentimental autorrealização que, porque situada egoisticamente, acaba por ser dominadora do Outro. Pelo contrário. Fiel ao seu dinamismo originante, o amor procura que, efectiva e integralmente, o Outro viva. Por isso, é livre e libertador. Uma liberdade, todavia, que não é demissão ou desresponsabilização diante do Outro mas compromisso com ele para que descubra a Vida e viva.

Neste sentido, as nossas Marias da vida e do amor são aquelas que se apostam a educar-nos o olhar. Nelas, é-nos oferecido uma perspectiva, única e valiosa, de harmonia, poesia, beleza (cf. Papa Francisco) que inspira e enriquece a nossa compreensão e experiência do e no mundo. Um olhar cuidado e cuidador, feito de com-paixão, que nos ergue. E, uma vez erguidos, desafia-nos a levantar os olhos à descoberta de um horizonte onde possamos desenhar caminhos partilhados de alegria e de vida.

Portanto, olhemos, Hoje, para as nossas Marias. E sejamos gratos pela oportunidade e pelo dom de com elas con-vivermos. Aprendendo. Dando. Gerando. Amando. Vivendo...

Daniela Rodrigues
Professora