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OS DIAS A SEGUIR

A importância dos dias que vêm depois.

Ontem comemorou-se o Dia Internacional do Voluntário. Por um imprevisto este artigo não foi publicado no dia D mas no dia a seguir. É assim a vida. Feita de acasos que podem mudar, consideravelmente, o rumo, a abordagem, as perspetivas, os caminhos. 

Os dias em que as coisas acontecem, são dias maiores. Neles os momentos, os lugares, os acontecimentos, as pessoas ficam-nos na memória e no coração.  

Os dias a seguir às coisas terem acontecidos, parecem-nos menores, mas é pura ilusão!  

Teremos todos, certamente, feito a experiência de nos pormos inteiros num determinado acontecimento, determinação, compromisso ou propósito na vida. Sob o “calor” da vontade não temos dúvidas, preguiças, infidelidades ou fragilidades. O problema não é no dia. É nos dias a seguir! A esta altura da leitura conseguiremos pensar num desporto, no casamento, num curso, no trabalho, num voluntariado.  

Quando passam os dias de entusiasmo, o que nos mantém é a resiliência e o compromisso.

Resiliência e compromisso são uma espécie de reduto, de contracorrente nos nossos dias. São outras as palavras da moda. Não aparecem com clareza nos outdoors, na publicidade, nas mensagens, mas estão lá! Rápido, fácil, excitante, descartável, breve, autossatisfação, ainda que não verbalizadas, são as palavras da moda.

Dá que pensar! Sobretudo porque essas mensagens, que de subtis têm cada vez menos, vão moldando consciências, (des)educando personalidades, mudando hábitos, contaminando relações, mudando o nosso modo de ser e viver.  

Voltemos ao voluntariado!  

O Voluntariado não é currículo, é caridade!

Assumo a controvérsia da palavra caridade. Imagino que não faltará quem lhe encontre um sentido pejorativo associando-lhe uma conotação negativa, depreciativa ou até ofensiva, fruto da desinformação.  

Os cristãos precisam de reabilitar a caridade! “Gravá-la” no peito, nas mãos, até nos pés. “Os pés estarão sempre prontos a voar para onde o dever chama ou a caridade reclama”, dizia-nos o Padre Jean Gailhac.  

Do latim carĭtas, caridade significa amor, ternura, afeição.  No Cristianismo a palavra ganhou forte conotação religiosa, sendo uma das três virtudes teologais (fé, esperança e caridade). Para os cristãos a caridade é o amor de Deus expresso no amor aos irmãos. Infelizmente, com o passar dos tempos a caridade parece ter ficado reduzida a esmola e o seu sentido mais profundo substituído por uma nova palavra: solidariedade.  

O Voluntariado não é sobre mim!

Não é sobre o tempo que dou, é sobre o tempo que os meus irmãos precisam de mim. Recordemo-nos de Francisco durante as Jornadas Mundiais da Juventude em Lisboa: “Não estamos no mundo para fazer servir os nossos interesses, mas para nos desinquietarmos indo ao encontro de quem precisa de nós. É assim que nos encontramos a nós mesmos. Sabeis porque é que muitas vezes nos enganamos no caminho? Porque ficamos a orbitar à volta de nós próprios. Pelo contrário, quem sai da sua órbita encontra-se, quem se gasta pelos outros ganha-se a si mesmo, porque a vida só se possui dando-a." 

O Voluntariado não é de cima para baixo!

O Voluntariado, quando vivido em ambientes e contextos de relação humana, com crianças, jovens, adultos e idosos, pessoas sem abrigo, doentes, imigrantes... Não é sobre nós e eles! Não é sobre os capazes e os necessitados. O Voluntariado não é sobre ajudar os humildes como tantas vezes se ouve numa total adulteração da humildade, transformada em humilhação disfarçada.  

Voltemos ao amado Papa Francisco: “O único momento em que é lícito olhar uma pessoa de cima é para a ajudar a levantar-se.” 

O Voluntariado não é no dia!

O Voluntariado não é um momento na nossa semana, no nosso mês, não é um emprego. O Voluntariado é nos dias antes e sobretudo nos dias a seguir... no que nos fica “colado” à pele, nas histórias e preocupações que levamos para as nossas vidas, na união de corações, na vontade de construir o bem comum.
O Voluntariado é um modo de ser resilientes e comprometidos todos os dias!  

O Dia Internacional do Voluntário, que ontem vivemos, coincide com o lançamento global do Ano Internacional do Voluntariado para o Desenvolvimento Sustentável que tem como tema: “Toda a contribuição Importa”.

Segundo a ONU "o voluntariado é uma força motriz para enfrentar desafios globais e reforçar a coesão social" e este ano pretende destacar “o papel essencial que os voluntários desempenham no avanço de metas globais, no fomento da resiliência e no avanço coletivo. Governos, organizações e comunidades são incentivados a reconhecer e apoiar os voluntários criando ambientes seguros e inclusivos e integrando o voluntariado às políticas.” 

São precisos muitos corações, braços, pés e muitos dias! 

Luís Pedro de Sousa
Professor