Menu Fechar

VOZ PROFÉTICA PELA JUSTIÇA NO MUNDO GLOBAL

Trabalhar pela justiça para que a missão de Jesus possa ser realizada “para que todos tenham Vida”

Hoje em dia o nosso mundo vê-se confrontado com crises globais complexas que estão intrinsecamente interligadas. Imagens vividas nos nossos meios de comunicação social retratam o impacto da violência e da guerra, da crise climática e da crescente desigualdade, à medida que barcos de migrantes desesperados atravessam o Mediterrâneo e as pessoas arriscam as suas vidas para escapar à violência, à pobreza, à opressão e às catástrofes ambientais.

Como referiu o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, ao apresentar o seu relatório anual de 2022. "Não tenhamos ilusões. Estamos em mares agitados. Um inverno de descontentamento global está no horizonte. A crise do custo de vida é violenta. A confiança está a desmoronar-se. O nosso planeta está a arder. As pessoas estão a sofrer - e os mais vulneráveis são os que mais sofrem"(i).
É aí que reside a urgência do apelo expresso tão claramente pelo Papa Francisco, na Laudato Si, para "ouvir tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres" (LS #49). Observando que estamos perante uma crise complexa que é simultaneamente social e ambiental, o Papa Francisco escreveu: "As directrizes para a solução requerem uma abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos ex­cluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza." (LS #139).

Como é que isto se relaciona com o nosso carisma e missão RSCM? Neste ano do Pe Gailhac, somos convidados a refletir sobre as suas opções de vida.

Vemo-lo primeiro a optar por trabalhar como capelão do Hotel Dieu em Bèziers, respondendo às necessidades de jovens mulheres em condições desesperadas num hospital pobre, mulheres apanhadas no ciclo vicioso do empobrecimento, vulnerabilidade e abuso. Preferiu esta opção a um lugar de professor no Seminário, que o teria colocado na ribalta académica. Criou o Refúgio e, depois, atento a outras necessidades sociais e aproveitando os dons das primeiras Irmãs da jovem Congregação começou a cuidar de órfãos, a educar meninas, a dar aulas nocturnas às mulheres que trabalhavam nas fábricas.

Esta foi a resposta de fé e zelo do P. Gailhac às necessidades sociais do seu tempo e às situações de injustiça e de exclusão social na França do século XIX. Embora estas respostas assumam formas diferentes no nosso mundo globalizado de hoje, reconhecemos as mesmas características de exclusão social, vulnerabilidade e marginalização - e as formas como temos respondido como RSCM em missão por todo o mundo.

Durante a vida do Pe Gailhac não havia um corpo de doutrina social católica que servisse de guia para discernir as prioridades da missão. A primeira Encíclica, Social Rerum Novarum (Das coisas novas), foi publicada em 1891, um ano após a morte do Pe Gailhac, quando o Papa Leão XIII se tornou o primeiro papa a abordar diretamente os problemas da industrialização.
O Concílio Vaticano II realçou as preocupações sociais de meados do século XX, mas foi o Sínodo dos Bispos de 1971 que provou ser um momento crucial, quando os bispos declararam, com notável clareza, em Justiça no Mundo, que "a ação em prol da justiça e a participação na transformação do mundo aparecem-nos plenamente como uma dimensão constitutiva da pregação do Evangelho"(ii).

Isto serviu como um ponto de viragem significativo para nós, RSCM, pois reconhecemos mais profundamente no nosso Capítulo Geral de 1975 que a missão é um apelo à Justiça.

Ao longo das décadas que se seguiram, as nossas expressões de missão tornaram-se mais diversificadas e fomos desafiadas a responder de novas formas, atravessando fronteiras e avançando para novos ministérios que, juntamente com as nossas instituições educativas, respondiam às necessidades emergentes do nosso mundo.
O compromisso claro com a justiça social e a convicção de que somos chamadas a ser uma presença e uma voz profética, trabalhando pela justiça, independentemente do nosso ministério, levou à formação da nossa rede internacional JPIC e ao nosso ministério como ONG na ONU.
A nossa missão chama-nos a todos para sermos os elos dessa rede no coração do nosso mundo em crise, trabalhando pela justiça para que a missão de Jesus possa ser realizada "para que todos tenham Vida".

Ir. Veronica Brand, rscm


(i) https://www.un.org/sg/en/content/sg/speeches/2022-09-20/secretary-generals-address-the-general-assembly
(ii) https://www.cctwincities.org/wp-content/uploads/2015/10/Justicia-in-Mundo.pdf